TRANSPORTE PÚBLICO: ISSO É PROBLEMA NOSSO!

Postado por Andrié terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Passagem de buzu: de 2,30 pra 2,50 – apoio às manifestações.



Experiência humana no espaço

Em Salvador, desde há algum tempo, a abordagem tão somente econômica da experiência das pessoas no espaço urbano a tem restringido a apenas uma de suas possibilidades: o turismo. As ações como o tipo de publicidade empregado, os preços altos, pontos turísticos caricatos, a ênfase no setor hoteleiro, transparecem as peculiaridades dessa forma de experiência espacial urbana. Ela se baseia num regime especial de tempo, ou seja, pela curta estadia da pessoa na cidade, no período de férias, por exemplo; e espaço, quero dizer, num "exótico", num espaço que não é habitual à pessoa.

Entendendo "experiência humana no espaço" como, essencialmente, boa relação com o lugar, como interação com o que há de surpreendente e prazeroso em sua forma de ser, é preciso perceber outra possibilidade dentre desta questão (da experiência humana), muito mais básica e necessária. Não se submeter àquele regime especial de tempo e espaço, mas sim, pelo contrário, tornar menos distinguíveis o prazer e a atividade cotidiana no espaço; tornar o espaço urbano atrativo, interessante, prazeroso a seus usuários habituais. Portanto, além das atividades de lazer, as atividades cotidianas - comprar pão, vender água, ir ao estágio, andar de trem - não devem ser opostas ao prazer que se sente em estar no lugar. Isso mesmo é que, em primeiro lugar, deve balizar o fazer arquitetônico, em seus vieses de urbanismo e paisagismo.

A experiência espacial urbana cotidiana é uma causa inerente à atividade de produzir o espaço para as pessoas, contudo, o seu êxito não depende apenas da forma como se o
projeta e constrói. Devem ser considerados também outros elementos, mais básicos a
essa experiência, por exemplo, que as pessoas precisam ter acesso à sua cidade:
precisam de saúde (da boa qualidade do ar, do saneamento); precisam ter acesso aos
produtos e serviços (ao contrário de barreiras de poder aquisitivo); precisam ter acesso aos lugares, circular nela – precisam da acessibilidade universal, precisam da fluidez do tráfego, precisam do conforto e da eficiência no transporte público.

De 2,30 pra 2,50.

No primeiro domingo do ano, dia 2, as tarifas de ônibus da capital soteropolitana sofreramum reajuste de R$ 2,30 pra 2,50 (e, como de costume, vão aumentar nas cidades da região metropolitana). O preço antigo já era, sim, caro e tinha um peso significativo no salário das famílias mais pobres (são quem principalmente usa ônibus) da grande Salvador.

O serviço de transporte da região metropolitana de Salvador é precário: seu sistema não tem a integração por regra, mas por exceção (como existe na estação Mussurunga e na Pirajá, todavia não na Iguatemi, na Barroquinha, na Lapa); não existe ntermodalidade; os motoristas muitas vezes não param nos pontos ou há acúmulo de ônibus parados de modo que é impossível alcançá-los sem estar no meio da rua; os abrigos de ônibus ou não Diretório dos Estudantes de Arquitetura da UFBA existem ou não funcionam (só isso explica o fato de as pessoas ficarem atrás do ponto de ônibus para ter sombra ou em pé sobre os bancos em caso de chuva); não existe maneira de “ler” e entender o sistema de linhas, saber os caminhos, itinerários, horários; em
algumas linhas faltam ônibus; não existe conforto ou acessibilidade, os ônibus são muito quentes, barulhentos, os bancos são rígidos, os degraus são altos (dificulta o acesso de idosos); os coletivos vêm lotados nos horários de pico.

O argumento oficial para o aumento é de que prefeitura não subsidia o transporte
público na cidade e as tarifas têm de cobrir despesas como renovação e manutenção de
frota e aumento de salários dos funcionários, correção inflacionária. Nem precisamos, se for o caso, contra-atacar esse argumento a perguntar onde estão as melhorias no transporte para o usuário e funcionários, porque há também um problema muito mais primário: diante das outras despesas e da média salarial baixa de quem vive numa das regiões metropolitanas mais desiguais do país, o trabalhador não pode pagar tão caro. Não é de simplesmente dizer que "caso o transporte público fosse confortável ele poderia ser caro", porque ele não é um luxo, não é mais uma opção, é uma necessidade básica da população.

Se por um lado o peso do transporte em Salvador é forte e real no bolso dos cidadãos e aumentar a tarifa de ônibus é onerar mais ainda o trabalhador e o estudante, simbolicamente aumentar o preço de um serviço sem nenhuma qualidade, em regime de
concessão pública, é absurdo. Caro, desconfortável e ineficiente, o transporte público não atende os trabalhadores e estudantes em suas atividades cotidianas, quiçá
estimulá-los a circular por sua cidade e num transporte coletivo quando não estão
obrigados a isso. Ir de encontro ao aumento e à lógica que o envolve é, portanto, estar a favor da população, a favor da experiência positiva das pessoas no espaço urbano.

Manisfestações

Numa cultura de pessoas acostumadas a calar-se diante das injustiças e privilégios, muito apoio, naturalmente, devemos àqueles se mobilizam. Também por esta razão o Diretório dos Estudantes de Arquitetura e Urbanismo da Ufba parabeniza os estudantes em manifestação e apóia os protestos vitoriosos da Revolta do Buzu 2011 dessa semana e os que virão. Convida os estudantes de arquitetura e urbanismo da Bahia, em especial os da UFBA, e toda a sociedade civil a integrarem o movimento, procurando conhecê-lo e divulgá-lo nos meios de mídia e a participarem dos protestos nas ruas. Pede, ainda, paciência pelos transtornos causados agora, com a certeza de que é por uma causa maior.

Andrié R. da Silva,
Salvador, 8 de janeiro de 2011.

Produzido por Bruno e Thomé.

Produzido por Larissa Costa e Mariana Silva.

Produzido por Murilo Vilaronga e Rui Ribeiro.

Produzido por Aleth Valverde e Felipe Jacobina.

Produção de Matheus Lins e Virgínia Letícia.

Produzido por Daiana Fernandes, Tatiane Ribeiro e Vanessa Andrade.

Produzido por Fabiane e Luana

Marcel Silva e Ana Carolina Gouveia

Produzido por Aloísio Antônio

Produzido por André Meireles Barbosa e Rogério Suzart

Equipe de Carolina dos Anjos, Priscila Mascate e Raimunda Rosário.

Produzido por Flávia Oliveira, Marcio Barreto e Renata Vieira.

Produzido por Rodrigo Mendonça e Alexandre Rosier.

Produzido por Suellen Santana, Thaís Carmo e Vanessa Sosnierz.

Vídeo sobre o bairro Santo Antônio, do grupo Carol Gargur, David Telles e Rodrigo Felix.

Realizado por Andrié Silva e Rodrigo Motta.

Por Gabriel Nery e Ludmila Lemos

Por Felipe Queiroz e Maria Clara Tarrafa

Vídeo produzido por Carolina Gomes e Bárbara Ariela da Silva Leite.

Em http://nossoatelier3.blogspot.com/ search/label/Oficina%20de%20video
Vídeos produzidos no Atelier 3 , de Ariadne, ano passado.

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