Em recentes entrevistas, o reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Naomar de Almeida Filho acusou os estudantes de medicina da UFBA de "traidores e desleais" pelo boicote ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE). Obviamente, tal acusação por parte da autoridade máxima da universidade, que criticou veementemente a postura do ex-coordenador do nosso Colegiado de graduação em atribuir a "culpa" pelo baixo desempenho aos alunos, ecoa, no mínimo, contraditória, para não dizer conveniente.
É perfeitamente possível compreender o que se encontra por trás de tal atitude por parte do reitor: a preocupação com a imagem da universidade em seu reitorado. Tal imagem é o que mais importa no atual momento de promoção tanto de si quanto de suas idéias acerca de uma velha Universidade Nova, não importando se, para tanto, encubram-se os fatos: o Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES) não tem 609 leitos, como afirma o reitor. Quem quiser tirar a prova, basta ir lá e contar. Aproveitem e questionem ao magnífico e os responsáveis pelo hospital por que uma enfermaria inteira de Clínica Médica e outra inteira de Pediatria encontram-se fechadas há mais de 5 anos, prejudicando não só os estudantes da UFBA e os médicos residentes do HUPES como também a população de toda a Bahia, uma vez que o nosso hospital é referência no estado.
Nós, os estudantes de medicina da Universidade Federal da Bahia estamos sofrendo agressões sucessivas por parte daqueles que deveriam ser os responsáveis por nos oferecer as condições necessárias para o nosso melhor aprendizado. Primeiro, fomos tachados de "burros" pelo nosso coordenador de curso e agora de traidores pelo reitor da universidade. Ambas as atitudes correm no sentido de desresponsabilizaçã o da instituição e ataque ao segmento estudantil que, historicamente, vem lutando pelas melhorias almejadas em nossa estrutura de ensino.
De maneira contrária ao reitor, assumimos nossa responsabilidade pelo baixo desempenho no ENADE. Boicotamos a prova, sim, mas não porque somos "traidores e desleais à instituição pública que nos acolheu". Boicotamos porque temos a compreensão de que um bom desempenho acabaria por encobrir todos os problemas que enfrentamos diariamente, a despeito dos bons desempenhos que obtemos nos diversos concursos em todo o país. Boicotamos porque não concordamos com uma avaliação pontual e "ranqueadora". E, por último, boicotamos porque achamos que as universidades públicas com maiores dificuldades não devem ser punidas e, sim, privilegiadas com recursos para que consigam sanar suas dificuldades.
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